domingo, 12 de fevereiro de 2012

1 Peixe, 1 Branco e 1 Tinto



     A brincadeira dessa vez foi diferente. Fui convidado a harmonizar um prato que não seria feito por mim. Isso acaba dificultando sensivelmente, pois a maneira como o prato é feito, a variedade e quantidade de temperos envolvidos alteram muito o resultado final. O que, por sua vez, pode comprometer a harmonização.
     O “briefing” que recebi é que seria um Salmão assado com alcaparras e batatas. Ai estava um outro problema. O Salmão é um peixe mais “carnudo”, de sabor mais intenso, peculiar e bem gorduroso. Portanto um vinho muito leve e ligeiro seria engolido pelo peixe. Escolhi 2 vinhos bem diferentes e estava muito animado para testar minhas escolhas.
     O primeiro vinho escolhido é praticamente uma unanimidade. Catena Chardonnay 2009. Um vinho barricado da famosa bodega Catena Zapata da Argentina. Não dava para fugir da combinação peixe/vinho branco, mas optei por um exemplar mais encorpado e estruturado com medo do salmão.
     O segundo foi uma escolha ousada. Um Beaujolais-Villages da vinícola Abel Pinchard. Este vinho é produzido com 100% de uvas Gammay. Queria ver como funcionaria a combinação de peixe e tinto, mas para não abusar da sorte, optei por um vinho jovem, leve e com poucos taninos.

Catena Chardonnay 2009 – Catena Zapata
Olhos: Esperava um pouco mais de intensidade na coloração. Um dourado claro, bastante brilhante e translúcido. As lágrimas evidenciavam os 14% de alcoolicidade.
Nariz: Inicialmente álcool em demasia, mesmo estando corretamente resfriado. Depois de um tempinho, frutas brancas, nítidos toques minerais e mel. Os aromas eram bem elegantes e discretos.
Boca: ótima estrutura e bem encorpado. Amanteigado, como o bom chardonnay deve ser. Boa persistência. Um leve tostadinho no final.
Beaujolais-Villages 2010 -  Abel Pinchard
Olhos: Vermelho Rubi intenso, mas translúcido.
Nariz: uma explosão de fruta. Morangos maduros e banana, muita banana. Esses 2 aromas encobriram todo o resto, não percebi mais nada.
Boca: um vinho super leve, ótima acidez, refrescante, um pouquinho de tanino, mas persistência zero. Frutas vermelhas discretas. Boca muito diferente do nariz, chega até a decepcionar um pouco devido a intensidade dos aromas.
Harmonização
     Vinhos muito diferentes que interagiram de maneira diferente com o prato. O amanteigado do Chardonnay combinou muito bem com a untuosidade do peixe junto com a manteiga usada na receita.A  textura de ambos na boca foi muito próxima, entretanto o alecrim usado para temperar a batata acabou deixando o prato mais aromático que o vinho. No caso do Beaujolais, os aromas se equipararam, mas na boca o salmão foi muito mais potente. Entretanto a acidez e frescor do vinho lavavam muito bem a boca entre uma garfada e outra gerando um contraste que me agradou muito.
    
     Minha aposta inicial era de um banho do Chardonnay sobre a Gammay. Além de ser fã declarado dos vinhos da Bodega Catena Zapata, confesso que tinha um certo preconceito com os vinhos de Beaujolais, talvez devido ao excesso de marketing que envolve o Beaujolais Noveau. As duas combinações foram felizes de formas diferentes, mas meu gosto pessoal apreciou mais o contraste  do que a semelhança.  A jovialidade e leveza do tinto me conquistaram.

Até a próxima!!



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