A brincadeira
dessa vez foi diferente. Fui convidado a harmonizar um prato que não seria
feito por mim. Isso acaba dificultando sensivelmente, pois a maneira como o
prato é feito, a variedade e quantidade de temperos envolvidos alteram muito o resultado
final. O que, por sua vez, pode comprometer a harmonização.
O “briefing”
que recebi é que seria um Salmão assado com alcaparras e batatas. Ai estava um
outro problema. O Salmão é um peixe mais “carnudo”, de sabor mais intenso, peculiar
e bem gorduroso. Portanto um vinho muito leve e ligeiro seria engolido pelo
peixe. Escolhi 2 vinhos bem diferentes e estava muito animado para testar
minhas escolhas.
O primeiro
vinho escolhido é praticamente uma unanimidade. Catena Chardonnay 2009. Um
vinho barricado da famosa bodega Catena Zapata da Argentina. Não dava para
fugir da combinação peixe/vinho branco, mas optei por um exemplar mais
encorpado e estruturado com medo do salmão.
O segundo foi
uma escolha ousada. Um Beaujolais-Villages da vinícola Abel
Pinchard. Este vinho é produzido com 100% de uvas Gammay. Queria ver como
funcionaria a combinação de peixe e tinto, mas para não abusar da sorte, optei
por um vinho jovem, leve e com poucos taninos.
Catena Chardonnay 2009 – Catena Zapata
Olhos: Esperava um pouco mais de intensidade
na coloração. Um dourado claro, bastante brilhante e translúcido. As lágrimas evidenciavam
os 14% de alcoolicidade.
Nariz:
Inicialmente álcool em demasia, mesmo estando corretamente resfriado. Depois de
um tempinho, frutas brancas, nítidos toques minerais e mel. Os aromas eram bem
elegantes e discretos.
Boca: ótima estrutura
e bem encorpado. Amanteigado, como o bom chardonnay deve ser. Boa persistência.
Um leve tostadinho no final.
Beaujolais-Villages 2010 - Abel Pinchard
Olhos: Vermelho Rubi intenso, mas
translúcido.
Nariz: uma explosão de fruta.
Morangos maduros e banana, muita banana. Esses 2 aromas encobriram todo o
resto, não percebi mais nada.
Boca: um vinho super leve, ótima acidez,
refrescante, um pouquinho de tanino, mas persistência zero. Frutas vermelhas
discretas. Boca muito diferente do nariz, chega até a decepcionar um pouco
devido a intensidade dos aromas.
Harmonização
Vinhos muito diferentes que
interagiram de maneira diferente com o prato. O amanteigado do Chardonnay
combinou muito bem com a untuosidade do peixe junto com a manteiga usada na
receita.A textura de ambos na boca foi
muito próxima, entretanto o alecrim usado para temperar a batata acabou
deixando o prato mais aromático que o vinho. No caso do Beaujolais, os aromas
se equipararam, mas na boca o salmão foi muito mais potente. Entretanto a
acidez e frescor do vinho lavavam muito bem a boca entre uma garfada e outra
gerando um contraste que me agradou muito.
Minha aposta inicial era de um
banho do Chardonnay sobre a Gammay. Além de ser fã declarado dos vinhos da
Bodega Catena Zapata, confesso que tinha um certo preconceito com os vinhos de
Beaujolais, talvez devido ao excesso de marketing que envolve o Beaujolais
Noveau. As duas combinações foram felizes de formas diferentes, mas meu gosto
pessoal apreciou mais o contraste do que
a semelhança. A jovialidade e leveza do
tinto me conquistaram.
Até a próxima!!
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